segunda-feira, 15 de setembro de 2008

SARAPALHA
"Canta, canta, canarinho, ai, ai, ai. . . Não cantes fora de hora, ai, ai, ai. . . A barra do dia aí vem, ai, ai, ai. . . Coitado de quem namora!. . ."
(O TRECHO MAIS ALEGRE, DA CANTIGA MAIS ALEGRE, DE UM CAPIAU BEIRA-RIO.)

TAPERA DE ARRAIAL. Ali, na beira do rio Pará, deixaram largado um povoado inteiro: casas, sobradinho, capela; três vendinhas, o chalé e o cemitério; e a rua, sozinha e compri­da, que agora nem mais é uma estrada, de tanto que o mato a entupiu.
Ao redor, bons pastos, boa gente, terra boa para o arroz. E o lugar já esteve nos mapas, muito antes da malária chegar.
Ela veio de longe, do São Francisco. Um dia, tomou ca­minho, entrou na boca aberta do Pará, e pegou a subir. Cada ano avançava um punhado de léguas, mais perto, mais perto, pertinho, fazendo medo no povo, porque era sezão da brava — da "tremedeira que não desamontava" — matando muita gente.
— Talvez que até aqui ela não chegue. . . Deus há-de. . .
Mas chegou; nem dilatou para vir. E foi um ano de tris­tezas.

domingo, 13 de julho de 2008

CABEÇALHO EM CARTA DO LEITOR


Na seção carta do leitor dos jornais e das revistas, o leitor é identificado apenas pelo nome e cidade/estado de onde enviou a correspondência. Isso ocorre porque as cartas selecionadas para publicação, muitas vezes, passam por uma reformulação, podendo ser resumidas, parafraseadas, etc.No entanto,o gênero carta caracteriza-se por uma estrutura básica: o cabeçalho, no qual se explicita o local e a data da produção, os dados do destinatário e a forma de tratamento utilizada para estabelecer contato; o corpo da carta, no qual é desenvolvida a mensagem; a despedida, na qual se inclui a saudação e a assinatura do autor da carta.


No Vestibular da UEM, foi solicitado o gênero carta: "Como leitor, escreva uma carta ao editor de uma revista semanal, com até 15 linhas, expressando sua opinião sobre atemática abordada na coletânea de textos. Assine a carta com apenas a inicial do seu sobrenome final." Uma carta do leitor, portanto.


E aí a dúvida: pôr ou não cabeçalho? Alguns candidatos pusurem; outros não. Os que não puseram serão penalizados? Acredito - e espero - que não. Não posso afirmar que essa será a conduta da Comissão Organizadora do Vestibular da UEM, mas, se ela agir como as comissões dos melhores vestibulares do país (entre eles, a UNICAMP), nenhum candidato será penalizado.

segunda-feira, 30 de junho de 2008

Felicidade





Não deseje a felicidade.



"Não deseje a felicidade"Ela é um ideal que a gente constrói e nunca pode ser atingido. Só atrapalha", reflete a filósofa Viviane Mosé. "O que você tem que buscar no relacionamento é alegria, que não exige nada, é apenas um estado de vibração e abertura para a vida...". Se você tem um plano que vai ser feliz em um dia que nunca chega, perde o momento que é uma mistura de tudo isso - alegria, dor, vibração, tesão... a vida é um kit completo! Ninguém atinge um momento de perfeição. Tem mosquito no paraíso, enjôo no transatlântico, não existe ausência de movimento.... (e a felicidade é ausência de movimento!)." Viviane Mosé (psicanalista e filósofa)



sábado, 28 de junho de 2008

A PROVA DE REDAÇÃO NO VESTIBULAR UNICAMP

Em maio, a Comvest (Comissão Permanente para os Vestibulares) realizou, no campus de Campinas, a oficina “A Redação no Vestibular Unicamp” para estudantes de graduação e pós-graduação e professores do Ensino Médio.

Os objetivos da Oficina foram divulgar a filosofia, o formato, as características e a correção da prova de Redação da Unicamp e eliminar mitos e desinformações sobre a Redação dessa Universidade. Hoje, trataremos brevemente da correção e apresentaremos alguns mitos.

Para corrigir uma redação, a Unicamp considera quatro aspectos:

Consistência Temática

Coletânea

Tipo de Texto

Coesão/Modalidade

Para ser bem avaliado em redação, é necessário:


. em consistência temática: atender muito bem às instruções da prova.

· em coletânea: usar, no mínimo, um dos excertos, integrando-o ao conjunto do texto.

· em tipo de texto: desenvolver bem os elementos constituintes do tipo de texto escolhido.

· em coesão/modalidade: utilizar os recursos coesivos de modo a garantir uma leitura fluida do texto e empregar um léxico adequado às exigências de cada tipo de texto.


Todas as redações passam, por no mínimo, duas correções, as quais poderão anular a redação em consistência temática, coletânea ou tipo de texto. Toda anulação requer confirmação, que ocorrerá após uma terceira (ou até quinta) correção.

Cumpre destacar que é o curso escolhido pelo candidato que determina se a redação, feita por ele na 1ª fase, será ou não corrigida. Se o candidato optou por um curso de alta demanda, sua redação só será corrigida se ele atingir a nota de corte nas Questões Gerais da 1ª fase (nota de corte é o número mínimo de acertos, por carreira, necessário para que o candidato passe para a segunda fase do vestibular); já se ele escolheu um curso de baixa demanda sua redação será corrigida, independentemente da nota da 1ª fase.



Para finalizar, vejamos alguns mitos ou algumas inverdades:

todos os textos da coletânea devem ser utilizados na redação;

letra de forma em redação é proibido;

dados estatísticos ou outras informações específicas semelhantes incorretos levam a perda de pontos (atenção: só ocorrerá perda de pontos se a menção a esses dados ou a essas informações não for pertinente no texto);

palavras “bonitas” ou “difíceis” aumentam a nota.

TÍTULO EM REDAÇÃO

Colocação de título em redação


1. O que é título?
É uma frase que sintetiza o pensamento contido num texto.

2. É obrigatório colocar um título em uma redação?
O título só é obrigatório se houver algum comando, na proposta de redação, solicitando-o. Se não houver tal comando, não é necessário colocar título. Sua ausência não é penalizada.

3. Se o título for solicitado na proposta, mas, por esquecimento, não for colocado, a redação será anulada ou perderá muitos pontos?
Nem será anulada redação (a não ser que esteja explícito na proposta que a ausência de título implicará anulação da redação), nem serão descontados muitos pontos (muitas vezes, nenhum ponto é diminuído devido à ausência de título).

4. Qual a função do título?
O título tem a função de chamar a atenção do leitor para a leitura da redação.

5. Antes de começar a escrever uma redação, é necessário já pensar no título?
O melhor é só se preocupar com o título depois de a redação estar escrita. É nesse momento, após a leitura e releitura da redação, que o título deve ser escolhido.

6. Como escolher um título?
Entre as várias possibilidades, uma é resumir o último parágrafo da redação numa frase curta ou expressão ou então copiar (copiar, mesmo!) a última frase da conclusão.

7. É obrigatório pular linha entre o título e a introdução da redação?
Não. A introdução pode ser iniciada na linha seguinte ao título.


8. De onde surgiu o mito de que título é sempre obrigatório em redação e de que sua ausência sempre prejudica muito a nota da redação?
Entre outros fatores, surgiu da desinformação. Em geral, quem passa ou repassa esse mito não costuma acompanhar as publicações dos vestibulares ou ler atentamente as orientações das propostas de redação.

9. Se o tema for, por exemplo, “agricultura” e se o candidato quiser atribuir um título a sua redação, que título ele poderá colocar?
Esse tema foi solicitado pela Unicamp em 2007. Entre as redações, acima da média, apareceram algumas com títulos. Vejamos alguns:

· A melhor alternativa

· A semente de uma grande idéia

· Os biocombustíveis e a ação do Estado

· Agricultura planejada

· Opção pela energia

· Investir em bioenergia é investir em crescimento

· O ciclo do biocombustível

10. Deve-se usar pontuação (ponto final, interrogação, exclamação) em título?
Se o título for uma oração, convém utilizar a pontuação adequada. Se não, evite a pontuação. Mas, mesmo quando for oração, a ausência de pontuação não “acaba” com a redação como bem se observa no penúltimo título - uma oração.


Profª Márcia Garcia -
Mestre em Letras - é professora de Língua Portuguesa e Redação para Concursos e Vestibulares. e-mail: marciaagarcia@yahoo.com.br







REDAÇÃO






A seguir, apresentamos a lista dos gêneros textuais que poderão ser solicitados para a produção da redação nos vestibulares de 2008 e 2009.

1. Artigo de opinião.
2. Carta do leitor.
3. Carta de reclamação.
4. Carta réplica.
5. Crônica.
6. Relato.
7. Reportagem.
8. Resposta de questão interpretativa/argumentativa.
9. Resumo.
10. Texto instrucional.



RESUMO
"resumir é identificar as idéias centrais e secundárias de um texto; é apresentar uma síntese do texto que corresponde à compreensão do que foi lido."

Faça um resumo do texto abaixo, com 12 (doze) linhas, no máximo.


Definindo teoria


A palavra "teoria" vem aparecendo bastante na mídia, em parte devido ao debate entre criacionismo e ciência. Existem usos diferentes do termo, que acabam criando confusão. No seu uso popular, o termo descreve um corpo de idéias ainda incerto, baseado em especulações não demonstradas. Teoria, para muitos, significa um corpo de hipóteses esperando ainda por confirmação. Às vezes, o uso popular do termo distancia-se ainda mais do científico, significando idéias que são meio absurdas, fora da realidade: "Ah, esse cara sempre foi um inventor de teorias, não sabe do que está falando", ou "isso aí não passa de uma teoria, provavelmente é besteira".
Teoria em ciência significa algo completamente diferente. O termo mais apropriado para uma idéia de caráter especulativo é hipótese, e não teoria. Uma hipótese é justamente uma suposição ainda não provada, aceita provisoriamente como base para investigações futuras. Por exemplo, a panspermia é uma hipótese que sugere que a vida na Terra veio de outras partes do cosmo. Não sabemos se está certa ou errada, mas podemos tentar comprová-la ou refutá-la. Já uma teoria consiste na formulação de relações ou princípios descrevendo fenômenos observados que já foi verificada, ao menos em parte. Ou seja, uma teoria não é mais uma mera hipótese, tendo já passado por testes que confirmam suas premissas.
Quando cientistas falam de uma teoria, falam de um corpo de idéias aceitas pela comunidade científica como descrições
adequadas para fenômenos observados. A confirmação é por meio de observações e experimentos, o que cientistas chamam de método de validação empírica. Quanto mais sucesso tem uma teoria, maior o número de fenômenos que pode descrever. Quanto mais elegante, mais simples é.
Uma teoria de enorme sucesso em física é a teoria da gravitação universal de Newton. Ao propor que objetos com massa exercem uma força de atração mútua cuja intensidade cai com o inverso do quadrado da distância entre as massas, Newton e seus sucessores foram capazes de explicar as órbitas planetárias em torno do Sol, o fenômeno das marés, a forma oblata da Terra (achatada nos pólos), o movimento de projéteis na Terra e no espaço etc. Quando a Nasa lança um foguete da Terra ou o faz colidir com um cometa, a teoria usada no planejamento das missões é a de Newton. Testes em laboratórios e observações astronômicas mostram que a teoria funciona extremamente bem em distâncias que variam de décimos de milímetros até milhões de trilhões de quilômetros, a escala em que galáxias formam aglomerados atraídas por sua gravidade mútua.
Isso não significa que a teoria (ou qualquer outra) seja perfeita. Sabemos que ela deixa de ser válida quando objetos estão muito próximos de estrelas como o Sol. Correções são necessárias, no caso fornecidas pela teoria da relatividade geral de Einstein, que, em 1916, generalizou a teoria de Newton. O fato de teorias não serem perfeitas é fundamental para o progresso da ciência. Caso contrário, não nos restaria nada a fazer. E é justamente aqui o lugar da hipótese em ciência, tentando, através de idéias ainda não demonstradas, alavancar o conhecimento, desenvolver ainda mais nossas teorias. Para construir a teoria da relatividade, Einstein supôs que a velocidade da luz é sempre constante e que a matéria curva o espaço. Quando isso foi confirmado, a formulação ganhou o título de teoria. A pesquisa agora gira em torno dos limites dessa teoria e de como pode ser melhorada.
(GLEISER, Marcelo. Folha de S. Paulo, Mais!, 02 out. 2005.)
RESUMO


A popularização da palavra teoria tem distorcido o seu significado. Popularmente, o termo implicaria em hipóteses não confirmadas, sendo basicamente idéias sem base sólida e distantes do real. Para a ciência, o termo adequado para uma idéia especulativa é hipótese. Uma hipótese é uma suposição que pode ser questionada representando uma base para estudos posteriores. Um exemplo de hipótese é a panspermia. Uma teoria apresenta princípios sobre fenômenos confirmados já observados por cientistas formando um conjunto de idéias aceitas cientificamente através do método de validação empírica, que as comprovam por meio de experimentos. Uma teoria de grande êxito é a teoria da gravitação universal de Newton, que através de testes e estudos astronômicos tem comprovado a sua utilidade. Embora tenha funcionado bem, isso não quer dizer que uma teoria não apresente falhas. Esse fato funciona como uma alavanca para o progresso científico. É exatamente aí que a hipótese entra em cena, aperfeiçoando as teorias através de novos questionamentos.
Criação ou descoberta?

Fala-se muito no grande abismo entre ciência e arte, a primeira lógica, objetiva, enquanto a segunda é intuitiva, subjetiva. O poeta inglês John Keats acusou seu conterrâneo Isaac Newton de ter "desfiado o arco-íris" com suas explicações físicas sobre a difração da luz. Ou seja, explicar racionalmente algo de belo que existe no mundo é insultar a sua existência, tirar a sua poesia.É o velho problema das "Duas Culturas", que o escritor e físico inglês C.P. Snow, em um pronunciamento de 1959, acusou de estar levando à desintegração sociocultural, à fossilização da criatividade moderna. Segundo ele, apenas a reintegração das duas culturas levará a humanidade a novas respostas para alguns de seus maiores desafios.Um leitor desta coluna me escreveu recentemente pedindo que eu esclarecesse a distinção entre descoberta e criação. Mais especificamente, a diferença entre as duas dentro da ciência.Nós criamos ou descobrimos a ciência? Será que as nossas teorias e os nossos teoremas estão codificados de algum modo na natureza e tudo o que faz um cientista é "des-cobri-los", levantar a coberta que os esconde, revelando seu significado? Ou será que os criamos, usando nossa intuição, observação e lógica?Complicada, essa pergunta. E profundamente ligada à questão das duas culturas. Se fosse prudente, parava por aqui, citando a minha sábia avó, que dizia que "criar é coisa de Deus, descobrir é coisa de gente". Mas por que não tentar inverter isso, fazer do homem criador e não só criatura? Afinal, descobrir é emocionante, mas bem mais passivo do que criar.Comecemos pelo "Aurélio". "Criar" significa dar existência a; dar origem a; formar; imaginar. "Descobrir" significa tirar cobertura que ocultava, deixando à vista; encontrar pela primeira vez; revelar etc. À primeira vista, a distinção entre as duas culturas está nessas definições.O artista é o criador, ele ou ela dá existência a algo que não existia, enquanto o cientista é o descobridor, aquele que revela o significado oculto das coisas, sem criá-las. Beethoven criou a sua Nona Sinfonia, certo? Ela não existia antes de ele existir. Já Newton descobriu as três leis do movimento --elas estavam lá, escondidas na natureza, esperando para serem reveladas pela mente certa.Muita gente pode se contentar com essa explicação e dar o caso por encerrado. Mas eu não. Para mim, a ciência é uma criação, tão criação quanto uma obra de arte. O fato de arte e ciência obedecerem a critérios de validade diferentes, de a ciência ter uma aceitação baseada no método científico, que provê meios para que teorias sejam testadas frente a observações, não muda a minha opinião. Ciência é criação do homem, fruto de nossos cérebros e de nosso modo de ver o mundo. Para entender isso, basta examinarmos um exemplo de sua história.Aristóteles dizia que a gravidade vinha da tendência dos corpos de voltarem ao seu lugar de origem: uma pedra caía no chão porque foi de lá que ela tinha vindo. Newton, no século 17, propôs que a gravidade era uma força entre quaisquer corpos materiais, com intensidade proporcional ao produto de suas massas e inversamente proporcional ao quadrado de sua distância. Einstein, em 1916, disse que a gravidade vem da curvatura do espaço em torno de um corpo maciço, reduzindo-a a um efeito geométrico.Todas essas teorias foram propostas para explicar os mesmos fenômenos. Imagino que Einstein não terá a última palavra: a gravidade será explicada de formas diferentes, na medida em que o conhecimento científico avançar. Junto com novas tecnologias e novos conceitos surgem novas representações do mundo natural. Pode-se descobrir um novo fenômeno, mas sua explicação é criada.Pensemos agora em uma outra história, a da representação gráfica da crucificação de Cristo. No século 13 era uma coisa, na Renascença, outra, no século 18, ainda outra, e no 21, outra completamente diferente. O evento é o mesmo, mas a sua representação gráfica muda, porque muda a perspectiva artística. É perfeitamente razoável para um artista recriar a crucificação como um amálgama do seu subjetivismo e dos valores culturais da época em que vive. A visão artística está sempre em transformação.A científica também está. Ciência é uma construção humana, criada para que possamos compreender o mundo em que vivemos. O que se descobre são novos modos de criar.Marcelo Gleiser é professor de física teórica do Dartmouth College, em Hanover (EUA), e autor do livro "O Fim da Terra e do Céu"
RESUMOS


Em seu texto publicado na Folha de São Paulo, Marcelo Gleiser levanta a seguinte questão: Afinal a ciência é uma criação humana ou apenas uma descoberta?
Para muitos, cientista é aquele que revela o sentido oculto das coisas pré-existentes, enquanto que o artista cria o que não existia antes. No entanto Gleiser acredita que a ciência é uma criação do homem, assim como a arte o é, apesar de obedecerem a critérios diferentes. Como exemplo ele cita a gravidade, que ao longo da história foi explicada de maneiras distintas por Aristóteles, Newton e Einstein, mas que poderá encontrar novas possibilidades de explicação à medida em que o conhecimento científico avança. Portanto, finaliza Marcelo, a visão científica é uma construção humana em constante transformação, e o que se descobre são novos modos de criar.



Marcelo Gleiser, que aqui desenvolve uma dialética entre arte e ciência, rejeita a idéia de que esta, por seu caráter lógico e objetivo, não constitua fruto de criação, como a arte. Para o autor, a ciência pode ser essencialmente uma obra de arte. O próprio cérebro humano é capaz de conceber o pensamento artístico tanto quanto o científico. Para sustentar seu ponto de vista cita o fato de que cientistas diferentes em épocas diferentes explicam o mesmo fenômeno de modos diversos. A concepção de mundo evolui em função do tempo e do conhecimento, os quais, equacionados pela extraordinária capacidade humana de pensar, convergem para uma criação que se renova.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Evite usar


Há verbos que podem ser utilizados nos mais diversos contextos, com os mais diversos significados. Entre eles, destacam-se “ter”, “dar”, “pôr” e “fazer”, os quais, devido à sua abrangência, devem ser evitados em textos que pretendam ser adequados à modalidade escrita como os textos dissertativos.
Logo, sobretudo em dissertações, em vez de “Há pessoas que têm baixa auto-estima” escreva “Há pessoas que sofrem de baixa auto-estima”; em vez de “Tem bandidos com formação militar” escreva “Há bandidos com formação militar” e assim por diante.


Coesão textual (I)


A coesão textual consiste na relação entre palavras dentro das orações, entre orações dentro dos períodos, entre períodos dentro dos parágrafos e entre parágrafos dentro do texto.
Um texto coeso mantém uma conexão interna entre os enunciados. Em outros termos, num texto coeso, as palavras, as expressões, as frases e os parágrafos estão interligados, “amarrados”, “costurados” entre si.
“A lâmpada abre um círculo mágico sobre o papel onde escrevo.” (Mário Quintana) é um exemplo disso. O termo “onde” liga ou costura a oração “a lâmpada abre um círculo mágico sobre o papel” à “escrevo” e, ao fazê-lo, estabelece a coesão entre as duas orações. “Onde” é um elemento de coesão, e a ligação entre as duas orações é um fenômeno de coesão.
São inúmeros os elementos coesivos. Estudemos, por enquanto, dois deles: coesão por referência – anáfora e catáfora – e coesão por elipse.
Em um texto, costumam ocorrer termos que retomam outros – denominados anafóricos – e termos que anunciam ou antecipam outros – denominados catafóricos.
São anafóricos e/ou catafóricos o artigo definido, alguns pronomes, os verbos “ser” e “fazer”, alguns numerais, certos advérbios.
No verso “essa chama de vida – que transcende a própria vida” (Mário Quintana), há um exemplo de anafórico: o pronome relativo “que”, pois retoma o substantivo “chama”.
Já no fragmento “Qualquer que tivesse sido seu trabalho anterior, ele o abandonara (...). O professor era grande, gordo e silencioso, de ombros contraídos.” (Clarice Lispector), há exemplos de catafóricos: o pronome possessivo “seu” e o pronome pessoal do caso reto “ele”, já que antecipam o substantivo “professor”.
Em um texto, também pode ocorrer apagamento de um termo – elipse – para evitar a repetição desse termo, por ser facilmente depreendido pelo contexto.

Em “Prudêncio, um moleque da casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão (...), eu trepava-lhe ao dorso (...)”
(Machado de Assis), há elipse ou apagamento da palavra “Prudêncio” em relação ao verbo “punha”, uma vez que essa palavra pode ser facilmente depreendida pelo contexto.

Chegado (jamais “chego”): Tinha chegado atrasado. – usar “chego” revela desconhecimento da língua culta, o que confere ao usuário um certo desprestígio social.

Mozarela ou muçarela: são essas as formas dicionarizadas do termo italiano “mozzarella”. Logo, evite utilizar outras formas.

A arte de revisar um texto


A arte de escrever e de revisar um texto

Fazer e desconfiar do que fizemos. Refazer e desconfiar do que refizemos. Rascunhar e rascunhar... É assim que chegamos, enquanto escritores, à redação que queremos: totalmente clara e compreensiva. E chegamos “cortando”.
“Escrever é cortar. A velha e boa definição bem que poderia ter tido origem no método de Graciliano Ramos. Como escritor, ele tinha dois trabalhos: fazer e desfazer o texto. (...) Quando não havia mais uma vírgula que pudesse ser jogada fora, o livro estava pronto.”
Em geral, os rascunhos de nossos textos contêm mínimas correções e pouco se diferenciam do texto definitivo. São rascunhos “prontos”! E isso ocorre porque revemos nossos textos com uma leitura rápida e pouco crítica, em vez de realizarmos uma revisão como se deve.
Citamos Graciliano Ramos. E Machado de Assis? Será que também fazia da revisão um passo fundamental para a produção de seus textos. Vejamos
um trecho da primeira redação pública (estampada na Gazeta de Notícias de 13/7/1884) e a redação definitiva (na 3ª edição em livro – Várias histórias, 1904) de “O enfermeiro’: (1ª) redação - “(...) tendo eu quarenta e dois anos [apareceu-me um emprego. Creio que era o quadragésimo. Eu, desde que deixei (por vadio) o curso de medicina, no segundo ano, fui todas as cousas deste mundo, entre outras, procurador de causas, mascate da roça, cambista, boticário e ultimamente agora era] teólogo, - quero dizer, copiava os estudos de teologia de um padre de Niterói, antigo companheiro de colégio, que assim me dava, delicadamente, casa, cama e mesa.”; (2ª) redação - “No ano anterior, ali pelo mês de agosto, tendo eu quarenta e dois anos, fiz-me teólogo – quero dizer, copiava os estudos de teologia de um padre de Niterói, antigo companheiro de colégio, que assim me dava, delicadamente, casa, cama e mesa.”
Quarenta e uma palavra a menos! Também Machado de Assis, grande escritor, submetia seus textos à revisão para suprimir trecho de todo irrelevante para o objetivo central do escritor (no texto acima: insinuar certo cinismo da personagem ao contar que, aos 42 anos de idade, vivia à custa de um padre amigo, a troco de copiar para este os seus estudos de teologia).
Em suma, a arte de escrever só se completa com a arte de revisar.

Quem ri, ri do quê?


Quem ri, ri do quê?

A gente “estamos” cansado, “tá bão”? Você riu? Se riu, não se incomode muito, pois, se muitas vezes não rimos, não é por falta de vontade. Pelo menos é isso que a observação nos permite afirmar.
E não só a nossa observação: também a observação de lingüistas (entre eles, Marcos Bagno), que estudam as variedades lingüísticas.
Para esses estudiosos, “falar diferente não é falar errado e o que pode parecer erro no português não-padrão tem uma explicação lógica, científica (lingüística, histórica, sociológica, psicológica)”.
Assim, falar ou escrever “probrema”, “cráudia”, “grobo”, “pranta”, “ingrês”, “broco”, exemplos extraídos de A língua de Eulália, de Marcos Bagno, explica-se, historicamente, por existir na língua uma “tendência natural em transformar em “r” o “l” dos encontros consonantais”. Quem fala ou escreve “broco” em vez de “bloco” não é “ignorante” ou “burro”!
Ou seriam “ignorantes” ou “burros” escritores como Camões, Machado de Assis ou José de Alencar? Não, claro que não! Mas como explicar que em Os Lusíadas, Camões escreve:
“Doenças, frechas e trovões”? Frechas [!?]. E Machado e Alencar tanto escreviam “froco” como “floco”? Froco!? Simples. Em suas épocas, devido à tendência natural já apontada, essas variantes eram perfeitamente possíveis e aceitáveis.
Em nossos dias, no entanto, isso não é mais possível e as pessoas que falam ou escrevem “errado” (froco, por exemplo) podem se tornar motivo de riso e alvo de preconceito. E por quê? Porque, em geral, são pessoas pobres, quase analfabetas, excluídas e injustiçadas socialmente. São pessoas a quem não foi dada a oportunidade de ir à escola e aprender o “certo”, a língua padrão.
Que fique claro que não se está querendo aqui defender que se precisa aceitar tudo em todas as situações. Pretende-se, isso sim, mostrar que “falar diferente” não é “falar errado”. É apenas falar de acordo com umas das variantes da Língua portuguesa.
Portanto, quando rimos, estamos rindo do quê?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008



Verbo "falir"




O verbo “falir” é defectivo: faltam-lhe a maioria das pessoas do presente do indicativo e as formas delas derivadas. Possui apenas as formas: nós falimos, vós falis e fali (vós). Atenção: “falir” é conjugado em todas as pessoas dos outros tempos.

Planejando a dissertação

Planejamento de redação dissertativa seguindo a linha de raciocínio "síntese de idéias"
Faça (sempre, sempre, sempre) uma lista de idéias na seqüência em que vierem à sua mente

1) Escreva resumidamente, na folha de rascunho, sua opinião ou tese. Comece com “penso que” (ao passar a limpo, elimine essa expressão);

2) Selecione, da lista de idéias, três argumentos ("a", "b", "c");

3) Monte o esquema do texto ("síntese de idéias");

Introdução (1º parágrafo): tema, tese e argumentos (“a”, “b” e “c")

Desenvolvimento (2º parágrafo): argumento “a”;

Desenvolvimento (3º parágrafo): argumento “b”;

Desenvolvimento (4º parágrafo): argumento “c”;

Conclusão (5º parágrafo): expressão inicial (desse modo; portanto; assim; em resumo; etc.), reafirmação do tema e dos argumentos (“a”, “b” e “c”) e observação final apresentando uma proposta de intervenção (o que fazer / para que fazer / como fazer)

4) Rascunhe a introdução apresentando o tema e os três argumentos;

5) Continue... escrevendo o desenvolvimento e a conclusão;

6) Revise o texto com atenção;

7) Passe-o a limpo com letra legível.

Dicas de redação

Dicas para escrever uma boa dissertação

1) Em textos de, no máximo, 30 linhas, não escreva mais do que quatro ou cinco parágrafos.

2) Não redija parágrafos nem muito curtos, nem muito longos. Fique dentro do limite que vai de
5 a 8 linhas para cada parágrafo.

3) Utilize letra legível de tamanho regular, seja ela de forma, manuscrita ou bastão. Ao contrário do que alguns afirmam, muitas redações são escritas em letra de forma.

4) Introduza cada parágrafo com uma frase curta, que contenha a idéia central ou o objetivo do parágrafo.

5) Escreva com simplicidade. Não utilize palavras difíceis ou supostamente bonitas, nem gírias ou expressões coloquiais.

6) Não generalize. Frases como “Todo político é corrupto” indicam falta de reflexão.

7) Evite expressões como “eu acho”, “na minha humilde opinião”, “quem sou eu para falar sobre isso”, “quem sabe”.

8) Utilize formas para tornar o texto impessoal, tais como verbo auxiliar “ser” + verbo principal no particípio (“O problema não será resolvido pela imposição de uma lei”) ou verbo principal + “se” (“Negociou-se a compra de medicamentos”).

9) Modere suas opiniões e afirmações utilizando verbos auxiliares como “dever”, “poder”, “precisar”; predicados como “é certo”, “é provável”, “é necessário”, “é preciso”; advérbios como “certamente”, “possivelmente”, “provavelmente”; futuro do pretérito como “teria”, “ficaríamos”, “haveria”.

10) Jamais utilize o pronome de tratamento “você”.

11) Modere o emprego do pronome pessoal “eu” e utilize, sem receio, pronome e verbo na primeira pessoa do plural.