quarta-feira, 13 de junho de 2012

TIPO DE TEXTO: NARRAÇÃO

ELEMENTOS DA NARRAÇÃO

História: matéria-prima do texto narrativo;

Enredo: organização dos dados da história


A narração é, fundamentalmente, o relato de um conflito humano que se manifesta numa luta entre protagonista e antagonista.

Todos os elementos que compõem a história (personagens, ações, falas, pensamentos, sentimentos, características, ambientes) serão selecionados em função do conflito vivido pela personagem protagonista.

Numa história toda personagem vive intensamente um determinado problema, concretizando as angústias, as ansiedades, as emoções humanas. A esse problema vivido pala personagem numa história dá-se o nome de CONFLITO. O conflito humano pode ser de várias ordens: econômica, social, psicológico, emocional, existencial etc. Todos eles, no entanto, são gerados por dois aspectos básicos:

1º) o ter / não ter;

2º) o ser / não ser.


Por exemplo, a pessoa quer ter um carro; o fato de não ter gera nela um conflito. A pessoa quer ser amada; o fato de não ser gera nela um conflito.

A ausência de algo desejável ou a presença de algo indesejável constituem os elementos motivadores dos conflitos humanos.

Você, como todas as pessoas, possui conflitos, alguns mais, outros menos significativos. A diferença entre você e a personagem de uma história é que:

1º) você vive ao mesmo tempo vários conflitos de ordens diferentes;

2º) a personagem de uma história vive intensamente um conflito.


O conflito numa história é gerado pela presença de um antagonismo básico, que impede a personagem central de realizar seus desejos.

(Adaptação de Redação para o 2º Grau – Narrativa. Hermínio G. Sargentim)


PARA ESCREVER UM TEXTO NARRATIVO, É PRECISO:

1º) sintetizar a história (apresentação1, conflito2, desfecho3) em no máximo cinco linhas como, por exemplo, em: “O pai sai para buscar o enxoval da filha1. Até a tarde do dia do casamento, ele ainda não havia chegado. A noiva fica apreensiva com a demora do pai. Chega uma comitiva, carregando o corpo de um morto2. Embaixo do casacão do pai, a mãe da noiva encontra o vestido, os sapatos e as flores de laranjeiras3.”

2º) tomar muito cuidado com as consequências da escolha do narrador: o grau de consciência que o narrador pode ter das características das personagens, por exemplo, depende muito de qual tipo de foco narrativo for adotado (se for em 3ª pessoa, ele pode saber tudo, se for em 1ª, depende da sua atuação dentro do enredo);

3º) caracterizar muito bem as personagens: uma boa caracterização de personagem não pode levar em consideração apenas aspectos físicos; deve levar em conta também aspectos psicológicos de tipos humanos (estes aspectos devem estar presentes na cabeça do autor quando for trabalhar as ações das personagens dentro da trama que está criando; como acontece com as pessoas, o comportamento das personagens é em grande parte determinado por tais características psicológicas);


4º) integrar o cenário aos demais elementos da narrativa: por exemplo, o cenário pode sustentar a presença de personagens, motivar ações específicas, fornecer indícios (pistas) sobre determinados acontecimentos etc.;

5º) atentar para o fato de que os acontecimentos e ações têm, necessariamente, uma duração, ou seja, “consomem” tempo e de que a mudança de tempo verbal (por exemplo, do passado para o presente) só deve ocorrer se houver uma razão para isso;

(Itens de 2 a 5 adaptados de Vestibular Unicamp Narração)

Conselhos práticos a quem vai compor uma narrativa literária:


1º) Conhecer bem a história que vai ser contada, ou seja, ter presentes os elementos de compreensão que formam o resumo ou a síntese da narrativa.

2º) Ter presente o centro de interesse, que é a razão de ser de estarmos contando a história, Por que contamos aquela história? Qual a finalidade que buscamos atingir? É o centro de interesse que dá unidade e movimento a todos os elementos da narrativa. É claro que cada autor poderá ter uma razão diferente para contar a mesma história. É subjetivo. O que importa é que exista uma razão e uma finalidade, que exista um centro de interesse. Às vezes conta-se uma história para focalizar problemas nacionais, regionais, familiares, individuais; outras vezes, para sondar o íntimo da alma humana em ocasiões especiais; outras ainda para estudar tipos característicos ou curiosos nos hábitos, nos costumes, na linguagem, etc. Em torno do centro de interesse é que se agrupam todos os demais elementos da narrativa; dele é que surgem as palavras e frases mais adequadas, os recursos de estilo mais apropriados e eficazes.

3º) É necessário começar bem. A primeira frase é também o primeiro passo em direção ao centro de interesse. Quer narremos em ordem cronológica, quer antecipemos algum acontecimento, a razão da escolha da primeira ideia é uma só: preparar o leitor para encaminhá-lo ao centro de interesse. Se a ordem é cronológica, esse encaminhamento é natural. Se, invertendo a cronologia dos fatos, anteciparmos algum deles, o fato antecipado deverá ser tomado do próprio centro de interesse; a ideia adiantada ganhará, por isso mesmo, destaque e valor especial.


4º) Sugerir, mais do que explicar. A narrativa literária não é uma explanação ou comentário para efeito didático; sua finalidade é, como já vimos, despertar emoções, agitar o mundo psicológico do leitor. Ora, explicações demasiadas racionalizam sem propósito as ideias, abafam a curiosidade, nada falam aos sentimentos; antes, cansam e provocam o desinteresse. Em arte, não explicamos, sugerimos. Sugerir é escolher alguns elementos e dispô-los de tal maneira, que provoquem no leitor, por associação, novas ideias e sensações; sugerir é esclarecer apenas até certo ponto, instigando o leitor a prosseguir nossa criação dando uma interpretação pessoal dos fatos. Essa escolha é trabalho da intuição do autor, nela consistirá especialmente sua arte.

5º) A conclusão não deve esgotar o mundo das sugestões. Nunca terminemos a narrativa esclarecendo detalhadamente ao leitor todos os mistérios, todas as dúvidas ou indagações. É mais artístico que o final da história satisfaça a curiosidade intelectual ou a ansiedade psicológica de quem lê, sem matar as sugestões ou o encantamento criado durante a narrativa. Por isso, um final mais ou menos indeterminado, vago, é mais adequado que uma conclusão que parece interromper o curso dos fatos ou da vida das personagens.(Curso de Redação. Hildebrando a. de André)

TEMA PARA NARRAÇÃO – (UNICAMP)

Ser ou não ser, eis a questão. // Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come.

Situações-limite são uma constante, tendo sido retomadas tanto pela literatura como pela sabedoria popular. Pensando nisso, escreva uma narrativa em primeira pessoa, na qual o narrador não seja o protagonista da ação. Considere os aspectos abaixo, que constituirão um roteiro para sua narrativa, a qual pode corresponder a diferentes situações, como um drama familiar, uma questão de ordem psicológica, uma aventura, etc.: * uma situação problemática, de cuja solução depende algo muito importante; * uma tentativa de solução do problema, pela escolha de um dos caminhos possíveis, todos arriscados: ultrapassar ou não ultrapassar uma fronteira; * uma solução para o problema, mesmo que origine uma nova situação problemática.


SÍNTESE DE UM ENREDO POSSÍVEL (o enredo é o resultado da atuação das personagens em determinados cenários, durante certos períodos de tempo, tudo isso contado, para o leitor, por um narrador): Há quatro anos, ela recebera a notícia de que sua mãe estava com câncer. Sem nunca ter podido ir visitar a mãe enferma, vive aguardando, por carta, a notícia da morte desta. Ao receber tal notícia, comunica-a ao marido, que lhe entrega um maço de notas velhas. Entre usar o dinheiro para ir ao velório a fim de ver a mãe pela última vez ou comprar alimentos para os filhos, acaba tomando a decisão de sempre: não ir. Tudo isso a torna uma pessoa amargurada para sempre.


REDAÇÃO - Nem Salomão

O dia com o qual ela sonhara incontáveis vezes havia chegado. Desde que recebera a notícia de que sua mãe estava com câncer, minha mãe não descansara por um único minuto.

Estávamos então em 1959, e éramos cinco. Os tempos eram difíceis, e a crise no país permanecia, a despeito do quinto aniversário da morte de Getúlio. Era difícil conseguir comida, em especial se não houvesse dinheiro o suficiente. Era o nosso caso.

Todas as tardes, religiosamente, minha mãe esperava pelo carteiro. Naquele dia, contudo, foi como se ela soubesse. Não houve necessidade da presença do carteiro ou da carta mal escrita em sua mão; ela acordou, de manhã, e nos arrumou a todos. Deixou a costura de lado — fora cozinhar, era o que ela fazia de melhor. E sentou-se à mesa da cozinha, esperando meu pai chegar.

O carteiro passou antes, mas ela não se deu ao trabalho de levantar.

Mais tarde, disse-me que, naquele momento, olhando para a carta, tentava imaginar — ou melhor, lembrar-se — das feições de sua mãe. Havia quatro anos que não se viam. Uma oportunidade, essa, que voltaria jamais.

Enquanto os olhos de mamãe vidravam o infinito, guiados pelos sentimentos da perda, sua cabeça sempre presente vasculhava os armários à procura de comida. Nada havia que se aproveitasse. Fazer compras era imprescindível.

Passou mais um longo tempo até que papai chegasse em casa. Mamãe deu-lhe a notícia. Não creio que tenha se comovido. Sem olhar para ela outra vez, tirou um maço de notas velhas do bolso e lançou-o sobre a mesa.

Ela pegou as notas e correu em direção ao quarto onde ele acabara de entrar e mexeu na porta. Estava trancada.

De um instante para outro, uma série de frases desconexas jorraram de sua boca já úmida pelas lágrimas. "Comprar o arroz, Messias... Minha mãe mora longe e não tem óleo... Sem ter com quem deixar as crianças... Ai, meu deus!"

Meu pai permanecia morto, se morto estivesse.

O dinheiro na mesa era pouco. Cumprir o papel de filha, ou o de mãe. Sofrer a amargura de nunca mais ver a mãe, ou os filhos passarem fome. Talvez pedir algum dinheiro emprestado fosse uma solução. E ter que contar com um marido bêbedo para pagar mais uma dívida... não parecia tão boa ideia após cinco minutos.

"Os que foram, foram. Não há como trazê-los de volta." Foi com essa frase que minha mãe nos contou que havia optado por nos alimentar com arroz e fubá, ao invés de partirem em viagem.

A decisão nos trouxe alivio à fome e choro inconsolável para mamãe. Soubemos mais tarde que vovó foi baixada à sepultura por empregados de uma antiga patroa.

De fato, mamãe acabou tomando a mesma decisão de sempre. Havia quatro anos que vovó estava doente, e durante os mesmos quatro jamais se viram. O dinheiro nunca era suficiente, e, para mamãe, vínhamos sempre em primeiro lugar.

Creio que isso tudo a tenha transformado em uma pessoa amargurada. Desde então, ela e papai já se divorciaram e separaram seis vezes. Ela está sempre triste e cabisbaixa, não há o que a faça rir.

O preço foi muito alto para ela. E certamente não teríamos morrido de fome, se tivéssemos passado mais aquele dia sem comer.

(http://www.comvest.unicamp.br/vest_anteriores/2002/download/comentadas/CadernoQuestoes2002_fase1.pdf)

PROPOSTA DE NARRAÇÃO:


Uma propaganda na TV alerta a população sobre equívocos provocados pelo fato de pessoas terem o mesmo nome, explorando de modo bem-humorado o caso dos homônimos. No saguão de um aeroporto, um homem carrega uma pequena tabuleta com o nome da pessoa que espera, a quem, evidentemente, nunca vira antes. Quando chega, o homem cujo nome está escrito na tabuleta é levado para casa onde sua suposta família o espera com uma festa de boasvindas. Na hora do encontro, evidencia-se o engano: o recém-chegado, que nada tem de oriental, é recepcionado por uma família de japoneses. No aeroporto, o japonês esperado pela família permanece aguardando.


Redija uma narração em que se relate um caso de engano vivido por duas personagens homônimas. O narrador que você escolher deve contar como o equívoco se gerou e explorar a reação tanto dessas personagens quanto de outras presentes na situação imaginada. Procure ser bem criativo no desfecho.

(PUC-CAMPINAS 2011)

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